Toda manhã pego um ônibus da mesma linha no mesmo horário. Neste ônibus, vou para o fundo e sento do lado esquerdo. Na mesma fileira, na extremidade oposta, sempre está sentado o mesmo homem. Tem uma expressão séria. Ele deixa seu par de luvas e gorro, caso esteja usando gorro, no banco à esquerda, com os pés apoiados no metal do banco à frente. Aparenta estar com entre 40 e 45 anos. É o único no ônibus que nunca está usando o celular, lendo um livro ou ouvindo música. Talvez tenha náusea, ou talvez, mais provavelmente, ache isso tudo uma besteira. Fica com as mãos juntas sobre as pernas, dedos entrelaçados, olhando para frente ou de olhos fechados.
Uma vez entrou junto comigo um outro homem com aparência de sem-teto, que se sentou perto de nós. O homem do canto me ignorou como de costume, porém ficou olhando para o possível sem-teto fixamente por alguns minutos. Depois voltou a olhar para frente. Observou também quando o sem-teto desceu no ponto em frente a um shopping.
Não sei onde o homem do canto sobe, pois subo depois. Sei, no entanto, onde desce, cerca de 1km antes de mim, em frente a uma concessionária. Tem cara de quem poderia se chamar Paul, mas com os estrangeiros pode ser difícil de prever.