Caleidoscópio

Parece que sempre houve na memória de Carlos uma visão marcante de uma barra de saia levantada. A mais recente era a da sua esposa enquanto lavava louças. Não sabia se era por avoação, calor ou mera malandragem de menina, mas a safada tinha deixado metade da barra levantada, ali meio que apoiada, meio que levitando, em cima do quadril, a calcinha branca e uma boa parte da nádega aparecendo. Carlos passou minutos, talvez horas, olhando aquele relevo, sentindo com os olhos a textura do material enquanto fingia que ouvia a conversa, e se lembrava de outras bundas, de tantas outras bundas.

Como a da sua prima, ele com doze, ela nos seus doces vinte e um, um verão de faltar água na bica, a moça provavelmente nem tendo notado a presença do moleque, enquanto ouvia a rádio e lia uma Ti-ti-ti. Estava deitada no sofá, ele passa na sala voltando da piscina do vizinho, até cumprimentou mas ela nem ouviu, estava encantada pela voz do locutor, enquanto Carlinhos se encantava com a barra da saia levantada, primeira visão do tipo que se recorda de ter tido, a calcinha rosa bem à mostra, uns pelinhos que não imaginava que existiriam por ali, saliências e sinuosidades que lhe acompanhariam na imaginação e no tato pelo resto da vida. Antes que a prima percebesse o que mostrava, ele já tinha saído para o banheiro.

Vários verões depois teve a chance de finalmente passar do imaginário ao real, com a vizinha, que tinha o que Carlos teve certeza por muito tempo que seria a melhor bunda da sua vida. Desde a primeira vez em que a viu – a bunda, não necessariamente a vizinha -, no dia em que ele veio à frente da casa pedir um pouco de óleo, e através da grade da frente pôde contemplá-la brincando com a irmã mais nova, despreocupada, sem perceber que a sua saia tinha se levantado, não pôde pensar em outra coisa, a cor vermelha dominou a sua libido por anos. Ela veio, corada, atendê-lo, com uma mão acenando e a outra, como que fingindo que nem ali estava, abaixando a saia para deixar a sua aparência menos indecorosa. Vários pedidos para sair depois, a calcinha vermelha foi abaixada, e não voltou ao seu lugar por o que aos dois pareceram eras.

Muitos anos, inícios, términos, porres, e trepadas depois, tantas bundas e calcinhas tendo-lhe passado pelos olhos, ao se deixar levar pela imaginação, o que faria até a velhice, para Carlos ainda viriam antes de tudo as cores branco, rosa e vermelho, todas se misturando e girando como em um caleidoscópio, rosa, vermelho, branco, vermelho, rosa, branco, rosa.

 

por Lealdo de Góis Andrade

Um comentário sobre “Caleidoscópio

  1. olha… esse conto tá awesome. caleidoscópio de calcinhas, kra. isso nunca mais vai sair da minha cabeça hauHUAhUAHuHAUAUha

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