Confissões

O boxeador está sentado, olhando para as suas mãos enluvadas. Sua frio.

– Será essa a última? Ou, mesmo sendo só uma, as últimas? Possivelmente a dele, provavelmente a minha. Não importa, a essa altura estou cansado demais para saber. Que a lona não tarde.

O médico, contemplando a janela do escritório e além, acende o primeiro cigarro desde a formatura.

– O meu lado humanista sabe que já morro aos poucos respirando e que esse cilindro só acelera o processo. O meu lado humano sabe apenas que tem pressa.

O homem foi preso enquanto o sangue da prostituta ainda estava quente e espalhado pelo quarto. Falou calmamente enquanto era algemado, em meio a gritos:

– Ela que pediu. Todas querem, com seus sorrisos, mas essa foi a única que pediu…ouvi a sua voz no meu ouvido implorando, e não fiz nada além de lhe dar a felicidade que buscava.

A senhora passou quarenta anos com o marido. Se separaram. Ficou mal, depois finalmente descobriu que gostava de sexo. Conheceu alguém vinte anos mais jovem que ela, trinta e cinco que o ex. Uma noite, ele dormia após ter fumado. Ela acendia as bitucas e só as bitucas, sem nunca ter fumado em sua frente.

– Durante todo o casamento, amei meu marido. Ele não me amou. Você, no entanto, me ama, enquanto eu não te amo. Roubo seu cigarro fumado e uso seu corpo. A sua tara pela minha carne mole ainda vai me matar.

A mãe, após ter deixado as crianças na escola, abriu o frasco de comprimidos. O marido tinha viajado a trabalho, como sempre viajava, como sempre viajava.

– Já tomei remédios que me fizeram bem. Outros me fizeram mal. Apenas peço que esse cure a doença da qual, sem ter adoecido, nunca sarei.

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