Das manhãs selvagens

Das manhãs selvagens

Absorvo a tranquila angústia

De quem sabe que a noite

Nos sussurrará uma canção de ninar

Para despertar os mortos.

 

Deixo florescê-los todos.

Sucumbir-me a mim,

Aceitar a existência tão vaga

Quanto a diferença

Entre tudo que passa.

 

Olho para o céu, e vejo o infinito.

Tornar-me-ia um com o universo

Fosse possível.

 

Como dizer o que não entendo se descreio no que não conheço?

Vinde a mim as criancinhas,

Não ouso desejar tudo,

Apenas aquilo que me pertence.

 

Poetas antes de mim quiseram capturar o que não sabiam.

Pôr ossos em recatados sóis,

Incapazes pincéis em pálidas portas.

 

Se anseio pelo que de mim está além,

Que parte de mim terei que deixar

Para alcançar o que de mim está no além?

 

Olho para o céu, e sei que o infinito

Não passa daquilo que não somos.

Não sendo, não nos tornaremos

O nada que para sempre seremos.

 

Que tudo flua à minha volta

Enquanto tudo o que eu não sou

Pega a minha mão,

E eu pego a sua mão,

Levando-me para o poente.

 

Deixo-me, fremente, ser levado,

E descanso,

Carregado por uma última visão,

Ardente.

por Lealdo Andrade

Consciente, inconsciente e pateticamente inspirado pelo maior do maior, Tabacaria.

Os Bufões voltam à ativa, após mais de 1 ano de alguma escrita ainda não aqui publicada e muita leitura – tenho descoberto novas formas, possibilidades e, invariavelmente, ídolos. A ambição segue; o presente, quem sabe, alcançará o futuro ainda só existente na minha cabeça.

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